segunda-feira, 5 de novembro de 2012

sempre quase


é como o incenso que tem melhor cheiro quando lacrado
ou
a igreja que por foto é mais atraente.
é como aquilo, aquilo, aquilo, ou aquilo e isso e
aquilo outro.
é como uma trilha já desbravada que o guia-turístico ilustra
inseguramente.
é subir até o monumento do Cristo com a caravana;
expectativa
suor
fome
ansiedade,
crendo calado e egoistamente num milagre iminente
e ao chegar lá ouvir alguém dizer
“bom, vamos descer, pessoal?”
e o milagre não aconteceu, e o monumento do Cristo é só uma estátua
e você foi logrado e além de tudo roubaram sua câmera fotográfica
com fotos óbvias de sorrisos de papel e fraternidade plástica.

é como andar pela estrada imaginando o próximo destino.
é chegar numa nova rodoviária e enxergar as mesmas pessoas,
nas mesmas situações e semblantes e sonhos
e até os cães que rondam por ali têm alguma esperança.
é como retornar à sua cidade natal com uma inquietação ímpar;
rever amigos, rever lugares, rever a praia e
os amigos estão no mesmo lugar, contando as mesmas piadas e
os prédios não mudaram, a praia ainda é feita de areia e mar,
os semáforos seguem orientando um trânsito brocha e
você enfim se lembra da última vez em que esteve aqui e prometeu
não voltar tão cedo
justamente por isso;
por tudo estar sempre igual, por tudo ser sempre frustrante e falso e insuficiente
e sempre quase.
é como fazer faculdade para ter um diploma e perceber que algo está errado.
é como fazer terapia e não entender nada.
é tentar suicídio semanalmente e fracassar semanalmente.
é como um circo. é como um apático show de fantoches.
é como a morte.

é a vida…

Um comentário: