segunda-feira, 5 de novembro de 2012

tantas palavras...



então
é por isso que as pessoas regam plantas
                    e levam seus lixos pra fora
                       e recorrem a um Deus
                                e têm filhos…
e é por isso que os pais abandonam seus filhos
e os filhos procuram os pais por toda a vida
                                        em outros rostos          
                                           e identidades
e ao encontrarem se decepcionam e choram.

é exatamente por isso que alguns cometem
suicídio e fogem, enlouquecem, erguem prédios
e escrevem poemas se queixando disso
frequentam puteiros, enchem a cara de valium
ganham estradas, perdem o orgulho,
brocham.

é por você que homens tacam fogo em seus próprios olhos
e transtornam avenidas, nus, e passam a noite em cana
e sustentam as têmporas com um gole de vinho
e enxergam afluentes nascendo da pele frágil
martirizada por canivetes cegos que foram úteis na estrada quando a única opção era manga verde do pé.

é por isso que homens marcam obras-primas.
e comemoram a taça ou festejam recordes

é por isso que as mulheres tomam anti-gases e compram revistas descartáveis
e alisam o cabelo descartável e disputam o amor descartável com uma faca sob a saia…

por isso existem tantos documentários tendenciosos
e por isso existe a depressão, incompreendida pelos que nunca sentiram isso, então seguem
regando plantas,
confortáveis, vivendo em consignação, à espera da extrema unção que redimirá
seus pecados secretos que sequer são interessantes.

é disso que as baratas se alimentam.
é por essa fresta que entram vagabundas com sorrisos injustos,
roubados de homens ensandecidos que não queriam o aborto
e que tiveram sua sorte abortada por mulheres aparentemente frágeis e
doces.

por isso as pontes são tão altas
e os esgotos tão escuros.

por isso tantos idiomas, tantas crenças, tantos mantras, tantos filmes, tantas palavras…
por isso a incompreensão absurda sobre um fato simples, o choro,
o aborto…
por isso os filhos seguem buscando seus pais por toda a vida;
em corpos, copos, cabelos loucos, olhos estranhos,
peles insípidas, putas que forjam em alemão,
rodoviárias, borracharias, bares,
músicas, quartos de hotel, o susto de um alce em meio à paz suspeita da floresta.

por isso estou aqui,
por isso tantas palavras…

para espantar isso
que insiste em chegar,
mesmo quando o equilíbrio acena como um velho camarada…
e foi justamente isso que estiou a tempestade de lágrimas
por tempo indeterminado.

bom.
sem lágrimas.
é mais fácil assim.

enfrentando isso com os olhos brutos e
prontos.

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