sábado, 23 de outubro de 2010

breve homenagem ao metrô (eu também vou reclamar)

a caminho do Paraíso
braços erguidos
não se vê um sorriso

relógios cansados
cérebros moídos
os corpos apertados,
comprimidos.

batalha diária
predatória
ilusória
aviária

o momento do dia em que os humanos mais se aproximam de
frangos moles.
bois na esteira
prontos para o abate.

carrancas com relógios.
todas os usam.

carrancas com cotovelos
sem apelos
sem 'licença'
cheios de pressa,
de crença.

as caras vermelhas; olhos mortos.
bigodes delineados. cabelos chapados
de creme sem enxágue

sem pudores, sem cortesia
fincando o pé esquerdo
no show de horrores de mais um dia
falido.

seus braços erguidos se misturam,
com seus relógios
tiquetaqueando
mais um percurso
a caminho do inferno.

sábado, 21 de agosto de 2010

a caminho do trabalho


todos os dias
eu tomo o ônibus das
quinze-pra-seis.
todos os dias
eu olho pra cara cansada
e desiludida
das pessoas
no ônibus das quinze-pra-seis.
todos os dias
eu leio contos
e poemas
a caminho do trabalho
e,
enquanto mergulho no céu
cor de papaya,
estico os ouvidos até as conversas engraçadas
dos passageiros.
mas
hoje
eu tomei o ônibus das
seis e vinte.
hoje
o céu tem cor de
fumaça de óleo diesel
e
eu não encarei os passageiros
cansados.
não estiquei os ouvidos. hoje
eu sinto
aquela velha tristeza
que há tempos não me visitava.
hoje,
meu amigo,
a noite vai ser longa...
...
mas
amanhã,
quem sabe,
eu tome o ônibus das quinze-pra-seis
e leia Hemingway
enquanto
estico os ouvidos, buscando
as lamúrias das Marias
ou
a fúria das Jandiras
ou
seu Zé e suas mentiras,
ao passo que o céu
cor de papaya
nos brinda com
sua magnitude
lá fora.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

para a responsável pela paz que ando sentindo.

eu e você.

nos aquecemos nessa cama fria
embriagados de vinho e poesia
adiando o mundo lá fora

sorrio e, em ti, encontro a paz
sugiro uma fusão, pra não perder-te jamais
peço que não vá embora

nossos corpos agora dançam em perfeita harmonia
e a sinfonia é o som ofegante que sai de nós
eu digo o que não pensei que, tão cedo, diria
como é bom, meu amor, quando estamos assim, a sós

eu te amo.
agora.
eu
te amo,
minha menina.
tanto. tanto. tanto.
na ausência do raciocínio,
a presença do fascínio.
sob o seu domínio, não me espanto

quando percebo
que o sol já se pôs
e assim como ele
você tem de partir
estilhaçando nossos devaneios.

e o que me resta é essa realidade fria
minha cama, vazia, parece grande demais
para mim.
mas fica tranqüila e me ouve:

mesmo que eu tenha de largar tudo
como uma criança tola e rebelde,
sem hesitar,
eu vou até aí te ver
carregando comigo
sua roupa, esquecida
e esse poema em versos livres.

e vamos repetir a dose.
e as doses.
de vinho, amor e poesia

você é mesmo um achado.
quem diria...