domingo, 22 de novembro de 2015

carta de despedida precoce encontrada num fundo de armário


São Paulo, 05/2010                                  


sei que vai durar pouco mas não me importo
brindemos.
sei exatamente o que vou sentir quando isso acabar,
aliás, já começo a sentir e quase não me importo.

vou me arrepender de não ter sido pleno e me repudiar por ter caído em armadilhas tão simples.
vou te procurar por todos os cantos,
cidades e rostos
pra tentar a redenção.

não vou te encontrar.

sinceramente vou desejar o seu bem antes de dormir e lembrar — sem sono — dos nossos silêncios e olhares furtivos a uma distância segura.
tão certo quanto o seu caráter, vou te agradecer por ter me cedido lápis e matéria quando tudo o que eu tinha era lama num tubo de ensaio.
nossa historia terá sido triste e nostálgica.
nossa despedida será tão efêmera quanto imagino agora e apesar de sabermos disso tudo, choraremos.

nossas bocas só se tiveram por uma noite.
tudo para nós terá sido incompleto.
um para o outro seremos uma lacuna opaca onde o silêncio é auscultado.
sei que está para acabar e que será cruel.
sei que tenho medo.
só não entendo porque escrevo assim, tão triste, se você está agora
tão perto de mim.


                             

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Kuleshova (Canção)


Eu não lembro mais
Do seu rosto, aliás
Do seu gosto também não

É natural 
sair assim de mim
E arrepender depois

Minas tá aí
Campinas tá aí
São Paulo é você
Por isso eu fugi

Sua projeção em toda esquina
Sua sombra cinza em toda menina
E o talvez te esbarrar comprando pão 
      ou indo ao bar


Agora você é letra
Agora você é lenha
Agora você não é minha

Agora você é eco
Eco que insiste mas não me atinge mais
Eco torcido e malcheiroso

eco

Agora você é canção
Eu não lembro mais
Do seu rosto, aliás
Do seu corpo também não


sexta-feira, 3 de abril de 2015