segunda-feira, 5 de novembro de 2012

o preço



“a cada vez que eu te vejo fico mais preocupada”, me dizem.

não se preocupem, eu digo.
é verdade que ando sofrendo de insônia, crises de paranóia,
as lutas têm me deixado rastros e ando mal alimentado, sem dinheiro –
                                                                    gastei excessos com álcool e sexo –
minhas mãos andam trêmulas, o pau já foi bem melhor, tentei suicídio,
minha porta está arrombada (eu mesmo o fiz), fundas olheiras, magro demais,
estou carente e frágil – sei disso –, querem meu pescoço, clonaram meu cartão,
enxergo o que não está ali, meu gás acabou, minhas roupas estão apodrecendo
                                                                                                                   [na umidade,
minha casa está imunda, ando estressado, ansioso, mal humorado, sem créditos na praça, odiado…
meu cerco está realmente se fechando,
e sei que estou me tornando um clichê.
é inevitável.
eu escolhi ser sozinho.
eu escolhi não estar sóbrio.
eu escolhi pensar até a exaustão mental e física.
eu decidi abdicar da tradicional felicidade – estúpida – para ter argumentos.
eu decidi colocar meu corpo à prova para conhecer meus limites – nunca os encontrei.

estou onde decidi estar, agora pago o preço.
                              
                               é alto,
                mas enquanto o poema e a música seguirem dispostos
                e elas seguirem entrando e saindo por aquela porta,
                estará tudo bem
                comigo.

mas agradeço a preocupação.


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