segunda-feira, 5 de novembro de 2012

quase lá



não é só isso, amigo.

é já ter compreendido o filósofo,
é saber destrinchar uma intenção
perfeitamente,
é não encontrar dificuldades em levar uma mulher à cama e
conseguir prever todas as palavras que sairão daquela boca vil
é estar vivo, com pernas que funcionam e dedos que apontam.
é ter rompido a placenta e ainda assim não compreender
nada
quando ela sai pela porta levando sua toalha e
todas as outras tralhas que me faziam companhia em
noites como essa.

sua bicicleta atravancando a cozinha já tinha até conquistado seu espaço
e parecia não mais atrapalhar,
aliás,
sua bicicleta já fazia parte da minha mobília precária.
sua vermelha toalha pendurada era como uma charmosa cortina de sublime tecido.
seus cabelos como água-viva espalhados por toda a casa…

bem, ainda tenho o filósofo, a cama, a boca
e palavras que me salvam em
noites como essa,
onde já sei tudo e conquistei tudo
mas pareço um leproso ao espelho.

nessas noites de vinte e quatro horas e cupins.
nessas noites de comprimidos.
noites de faca afiada, noites de martírio, de auto-piedade,
noites que se parecem em muito com noites.

noites de tuberculose.
aneurismas.

de culta incompreensão dos fatos,
de sábias palavras inúteis, de podres metáforas pedantes,
noites de úmido frio e insônia.

noites sem ela ali,
desfilando sua nudez a pedido meu,
enquanto me espalho pela cama sentindo esse breve amor
que uma toalha vermelha
é capaz de enxugar.

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