terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O manuscrito

     No quarto do suspeito não foi encontrado nada relevante, com exceção desse manuscrito aparentemente incompleto. Não pretendo influenciar suas opiniões. Pouco vou dizer. Usem o bom discernimento que lhes foi dado para julgar esse delicado caso.
     Sem mais, o manuscrito:

     "Meu deus, que noite! Finalmente o sol está acordando, para meu alívio e conforto. Amigo, talvez você pense que sou um louco ou — na pior das hipóteses — que tomo seu tempo para contar uma mentira, mas lhe garanto: tudo o que vou (tentar) descrever agora acaba de me acontecer, nessa noite que se encerra com esses primeiros raios de sol e que já me parece tão distante — graças!
     Bem, estou hospedado numa humilde pensão. Bastante receptiva, agradável e, principalmente, barata. Realmente barata! Pago a quantia de R$200 por mês, com direito a quarto individual, café da manhã, sala de TV (que não frequento) e um maravilhoso quintal com uma goiabeira que nunca deixa de exalar seu forte perfume acre-podre.
     Mas essa pensão tem algo de curioso. Não existe forro! As paredes sobem — muito altas —, então há um espaço vazio e só mais acima está o telhado, com suas telhas e vigas de sustentação. A sensação é boa. Costumava me deitar e fitar esse teto longínquo, como se eu fosse uma pequena barata debaixo da cama e as vigas de sustentação fossem o estrado da cama e as telhas fossem a própria cama de algum ser muito maior que eu. Era agradável pensar que eu também era um inseto desimportante; me tirava do ombro todo esse peso que jogam(os) em nós.
     Tudo bem, tive momentos prazerosos graças à falta de forro sobre as paredes, mas nessa noite que acaba de passar, isso me trouxe consequências atrozes. Como de costume, deitei cedo. (Costume recente, é verdade.) Apaguei a luz — seu fio pende desde uma das vigas de sustentação até o meio do quarto — e me acomodei sem sono na estreita cama. Cruzei os braços, levando as mãos ao peito, como defunto, mas não em tom fúnebre; realmente me apetece essa posição. Dobrei a perna direita, erguendo uma montanha na sombra do quarto. Uma pequena fresta de luz invadia o quarto através de um furo na janela, então logo percebi  — através da dilatação das pupilas — que a montanha era apenas a minha perna dobrada e me decepcionei, como se não soubesse tal fato. O sono não vinha. Questionei a atitude de ter deitado cedo, pensei que poderia estar caminhando pelas ruas, mergulhado na fascinante surpresa de estar numa cidade de mulheres incríveis; pensei que poderia estar lendo ou escrevendo; pensei que poderia estar celebrando, bêbado... até que isso aconteceu.
     (Chego a um momento decisivo desse relato. Até agora creio que você não tenha levantado suspeitas acerca do que relatei. E creio nem ter dado motivos. Mas o que vou contar agora vai dividir opiniões. Os que acreditarem, me julgarão louco ou criminoso; outros me considerarão um farsante. Mas preciso transmitir esse peso a alguém e sei que não aguentaria fazer como os fortes — guardar o fato por toda uma vida e, então, na velhice retratá-lo.)
     Não passava de meia-noite. O sono não vinha, então passei a imaginar coisas. Sim, coisas. Coisas desimportantes, aleatórias, infantis, pervertidas... coisas. Eis que, no mesmo instante em que pensava coisas, sem sequer ter bocejado ou fechado os olhos por mais de dois segundos, comecei a levitar. Pois é. Levitar. Estava sóbrio há vários dias e com a certeza de que aquilo não era um sonho... Não era um sonho! Mas comecei a levitar, levitar, pude ouvir a cama estalar sob meu corpo flutuante, senti que meu corpo estava menor, como se comprimido por uma pressão diferente. Senti um certo arrepio pelo corpo todo, mas não frio ou pânico; aquele arrepio de expectativa, como se nossos poros estivessem abertos demais; arrepio que afeta, sobretudo, a região do cóxis. Me entende?
     Levitei até ultrapassar o limite invisível do forro e cheguei perto do telhado. Não tentei — poderia facilmente dizer que tentei —, mas sei que poderia ter tocado as telhas. Lá de cima, meio sem equilíbrio, meio sem entender nada, enxerguei toda a pensão. Toda a parte interna, naturalmente. Enxerguei dentro dos quartos e enxerguei o corredor que dava para a sala de TV e o corredor entre os quartos e a própria sala de TV. A garrafa térmica ainda estava sobre a mesa de café. Então reparei no quarto 2 (o meu era o 6). O quarto 2 estava ao lado esquerdo do corredor, como o meu, e entre nós estava o quarto 4. A luz estava acesa. Do quarto 2, digo. Notei que lá estava uma mulher e que a mulher estava nua da cintura para cima. Eu via facilmente seus seios. Sem esforço aparente e não sei de que modo, voei até o quarto 2. 
     A mulher estava sentada numa cadeira, de frente para a janela, de costas para a porta e o corredor, em frente à sua cama que estava abarrotada de bolsas, roupas, brincos, cremes e produtos de beleza. A mulher de firmes seios à mostra passava, lentamente e com a ponta dos dedos, um creme nas costas. Estava de cabelos molhados, acabara de sair do banho. (Aqui na pensão o banho é frio.) Passava o creme com uma suavidade incomum, como se soubesse que estava sendo observada e pretendesse seduzir seu observador. Despejou mais creme na mão direita e espalhou o creme no ombro esquerdo e no resto das costas. Trazia ainda aquela suavidade. Eu observava tudo lá do alto. Ainda me sentia pequeno, mas ciente da parte física do meu corpo. Meu sangue fervia e circulava, meu coração estava acelerado e eu estava tomado por um fervor cego e burro. Não por estar levitando, mas por estar espionando essa incrível cena! A mulher não era bonita... Não era bonita, tinha cara de empregada doméstica ninfomaníaca. Ou melhor... sem conceitos, sem nomes... Apenas uma mulher que precisa de sexo para sobreviver, como os outros que precisam de água e teto. Então os humanos são hidromaníacos ou tetomaníacos? A mulher exalava sexo. Tinha aparência grosseira, por isso mesmo disse que sua suavidade ao passar o creme me era estranha.
     Desviei o foco e notei um envelope pardo, tamanho A3, sobre a mesinha de canto. A curiosidade que me acometeu transpassava infinitamente a excitação pelo ritual do creme e pela sensação de voar. Era como se pressentisse que naquele envelope estava guardado...
     Sem escolha, fui levado de volta ao meu quarto, passando antes por sobre o quarto 4 — onde dormia um alcoólatra. Deitei novamente, não mais na posição de defunto. Sorri espontaneamente. Um riso audível mas discreto. Não questionei a natureza do fato, não pensava no mistério da levitação, estava apenas sexualmente excitado pela imagem da mulher. Me masturbei imaginando aquela cena fresca, adicionando algumas predileções e taras.
     Me levantei para limpar a mão. Tirei o armário da frente da porta — sim, adotei essa medida de segurança, a porta não tranca por dentro — e fui até o banheiro coletivo. Limpei a mão, lavei o rosto, bebi um copo d'água e conferi se ainda tinha café na garrafa térmica. Não tinha. Voltei para o quarto e, ao chegar à porta, estanquei. Olhei na direção do quarto 2 e notei, pela claridade de certa área do teto, que a luz estava acesa. Fiquei novamente excitado, cego e burro. O coração me rasgando o peito e o corpo arrepiado como se em alta expectativa. Você me entende?
     Fiz o que qualquer um faria, garanto. Com muito cuidado para não provocar ruídos com as solas dos pés, fui até o quarto 2, ao fim do corredor. Ela estava lá. A porta tinha um pequeno buraco e eu olhei. Eu lhe garanto, amigo leitor, garanto como garanto que nasci no Brasil, ando sobre duas pernas, enxergo com dois olhos e amo como amam os abutres. Eu lhe juro, a mulher estava nua da cintura para cima, de costas para a porta, passava creme no ombro direito, usando a mão esquerda, e fazia isso no mesmo ritmo delicado e sensual. Não acreditei quando vi. Tirei os olhos do buraco da porta, ajeitei o cabelo por algum motivo, mexi as pernas e, estupidamente, provoquei um ruído altíssimo. Altíssimo para o silêncio do horário. Congelei. Em seguida senti meu corpo ferver, o calor subiu às têmporas e senti que não tinha cérebro, senti que era feito de algodão. Quis voltar para o quarto antes que fosse tarde, mas só o que consegui fazer foi olhar novamente pelo buraco da porta e nesse momento a mulher usava a mão direita para passar o creme de modo sensual no seu ombro esquerdo. 
     Não me ouviu. Logo, pegou um espelho portátil e passou a espalhar um creme pelo rosto. Num relance vi seus olhos pelo espelho e parece que me olhava. Nossos olhos certamente se cruzaram, mas não sei se ela me notou através do pequeno buraco da porta. É provável que não. Mas olhou como se olha para algo específico e logo voltou os olhos ao rosto refletido. Repousou o espelho na cama, largou os cremes e pegou um folheto. Provavelmente um catálogo de novos cremes e cosméticos. Segurava o folheto com a mão direita e com a esquerda mexia lentamente no cabelo, naquele mesmo ritmo instigante. Então tive uma ideia brilhante! Pensei algo que me tiraria a breve dúvida sobre a levitação; agora que estava sobre minhas duas pernas — uma das poucas certezas que tenho — e certamente lúcido, busquei através da fresta o tal envelope pardo que havia me chamado a atenção. Foi difícil. A fresta era muito pequena, não me revelava um grande campo, mas para minha surpresa, estranha surpresa, o envelope estava lá! Exatamente no mesmo lugar que estava anteriormente. Surpreso, senti medo. Como se até agora eu estivesse encarando o episódio da levitação como um incomum sonho lúcido, mas ao perceber que o envelope realmente estava lá, isso caía por terra. Mas na verdade, como já devo ter dito, era impossível encarar como um sonho, porque eu estava acordado, então percebi que ainda não tinha realmente pensado sobre isso.
     Eu estava ali, diante daquela porta. Diante daquela mulher diante do espelho. Diante de uma dúvida absurda e de um corpo semi-nu. Agi por impulso e empurrei a porta. Cedeu facilmente. A mulher seguia ali de costas, lendo o folheto e mexendo no cabelo. Encostei a porta que, mesmo tendo emitido aquele ruído comum a portas, não despertou a atenção da mulher. Dei dois passos curtos e estava quase roçando suas costas nuas, quando ela me notou pelo espelho que estava na cama. Deu um pulo, literalmente um pulo, e se virou. Foi da cadeira à cama, tendo quase derrubado a cadeira. Eu impedi que a cadeira caísse provocando um estrondo que acordaria os hóspedes. Olhei para ela, que me olhava não sem demonstrar medo. Estava inclinada, os braços paralelos para trás, sustentando o peso do corpo. Então seu semblante mudou. Me olhava como um animal. Inclinou mais ainda seu corpo, quase deitando, e me olhou de modo ainda mais desafiador. Queria sexo. E queria ali mesmo, naquele momento. 
     É verdade que eu havia acabado de me masturbar e gozar pensando nela, mas me senti excitado outra vez. Estranhamente, hesitei. Não fui em sua direção. Tive medo. Medo que ela gritasse, medo de passar por estuprador, medo de cair em alguma cilada da minha mente...
     Ela se sentou na cama e logo desabotoou o shorts que vestia, no ritmo que você já conhece. Deixou o shorts cair no chão e, só de calcinha, me olhou novamente, agora sem ameaça, mas uma nítida vontade de ser castigada — não o castigo do criminoso, mas o castigo da criança que passou um trote e foi descoberta. E apesar de excitadíssimo, não consegui avançar. Ela percebeu minha recusa e, nublando a expressão, se vestiu rapidamente, quebrando todo o encanto. Vestiu o shorts e, pela primeira vez, uma blusa larga e velha. Finalmente pareci despertar do transe do medo e disse 'não... eu quero agora.' com uma voz que saiu baixa e fina demais. Me senti um adolescente na puberdade e ela gargalhou, jogando a cabeça para trás. Veio na minha direção e, como se faz com um cachorro sarnento, me enxotou. Eu vi pena em seu movimento. Vi pena em seus olhos que não mais me encaravam e tentavam esconder o riso.
     Não cedi. Agarrei em seus braços e a joguei na cama. Arriei o shorts que uso para dormir e avancei em sua direção, como um alasão que irrompe num vasto campo aberto e o rasga em dois. Ela relutou, fez cara de raiva e me empurrou, exalando um grunhido entre-dentes. Tive medo que ela gritasse, então disse: 'Tá, eu saio, mas antes me diz uma coisa. O que tem naquele envelope?' e antes que ela respondesse, vi tudo duplicado. Vi dois quartos, duas dela, duas camas, dois envelopes, dois espelhos... Sobrepostos e em tons diferentes. Senti tontura e creio ter desmaiado.
     Acordei no meu quarto, o armário barrando a porta por dentro, do jeito que havia deixado, de shorts e com sede. Senti raiva. Ainda parecia preso à mesma realidade, com os mesmos pensamentos, a mesma temperatura ambiente, a mesma fresta de luz invadindo meu quarto, o mesmo teto sem forro... Não tinha sido um sonho. No entanto, acordei já tantas vezes e não consegui me livrar disso. 
     Tirei o armário da frente da porta, saí do quarto e, sem me preocupar com o barulho, andei até o quarto dela e espiei pela fresta. E ela estava lá, passando creme nas costas com a mesma suavidade! Empurrei a porta sem delicadeza e ela gritou. Gritou alto, altíssimo. Um berro gutural que deve ter acordado metade do quarteirão. Vi pavor nos seus olhos, então me fingi de bêbado e disse 'desculpa, eu errei o quarto! também durmo aqui na pensão'. Encostei a porta e voltei ao meu quarto. Acendi a luz e me deitei, coberto. Estava em pânico. Enxergava tudo claro demais. Eu poderia ser denunciado e ninguém acreditaria no meu relato! Mesmo porque, muito se parece com uma peça de mau gosto. Um velho clichê. Sequer é criativo, mas, no entanto, é verídico... Então percebi uma verdade humana. Não importa que você fale a verdade, você deve falar o que é mediano, o que é comum. Você deve falar apenas o que uma mente comum é capaz de compreender. Ou melhor, deve falar o que uma mente comum já ouviu alguém falar. Não se pode surpreender. Ainda mais nesse caso. 'HOMEM INVADE QUARTO DE MULHER EM PENSÃO'.
     Preparei meus ouvidos para que percebessem qualquer mínimo ruído. Fiquei muito tempo imóvel. Realmente imóvel, meus nervos pareciam travados. Mas nada ouvi. Fui relaxando aos poucos, ignorando a sede e, assim, caí no sono.
     Quando acordei, ainda era noite. Uma poça de suor estava sob as minhas costas; o colchão — sem lençol — parecia querer me expulsar dali. Não foi com surpresa que lembrei dos fatos que me atormentavam já há algumas horas. Ainda estava tudo fresco na minha memória e a sensação era a mesma: implacável, cansativa e incômoda. Senti vontade de chorar. Não de tristeza, mas desespero. A despeito disso, um silêncio leve pairava. Eu já não parecia mais agir por conta própria, simplesmente tirei o armário da frente da porta e saí do quarto. Parado, olhei na direção do quarto dela. A luz estava acesa. Decidi, antes de tudo, beber água. Fui até a sala de TV (a mesma do café) e enchi um copo com água gelada. Bebi de uma vez.
     Voltei lentamente para o corredor dos quartos, talvez querendo adiar o dilema, talvez esperando que ela tivesse apagado a luz nesse ínterim. Mas não. Quando cheguei lá a luz ainda estava acesa e era possível ouvir um barulho advindo do quarto 2. E essa certeza era plena, porque o 2 era o único quarto com a luz acesa.
     (Os leitores mais atentos poderão perceber que nada impede um cidadão de emitir ruídos no escuro e que minha fixação óbvia pelo quarto 2 foi quem estabeleceu a plenitude dessa certeza.)"

  
     Nota: nessa parte do manuscrito há uma rasura. O rapaz tentou apagar esse trecho: 'Meu deus, às vezes a minha inteligência me excita mais do que qualquer moça passando creme nas costas ou se masturbando em público!'
     E mais algumas rasuras que realmente deletam do manuscrito cerca de duas linhas de palavras.
     O manuscrito segue:

     "Decido abdicar desse embate. Resisto à tentação de checar outra vez a hóspede do quarto 2. Penso que será melhor tentar enterrar esse assunto. Quando me tranco novamente em meu quarto, de luz acesa e sentado na cama com um exemplar de Pais e Filhos, sinto uma paz quase inédita. Percebo cada detalhe do quarto. A lâmpada que pende lá do alto, os pregos enferrujados nas paredes, algumas roupas pelo chão, a mesinha de canto... tudo calmo e no seu devido lugar. Pareceu que o tormento havia acabado, mas quando abri aleatoriamente em alguma página, senti como um choque no cérebro. Como se um novo sentido brotasse em mim, além dos cinco conhecidos. Senti uma afluente que de súbito nasceu e me arrombou o cérebro, me deixando tonto e desesperado. Dói. Largo o livro e pressiono as têmporas com muita força; elas parecem duras e inchadas. Pressiono meus olhos com a palma das mãos, torno a pressionar as têmporas, nada adianta.
     No negrume infinito dos olhos fechados, vislumbro borrões e flashes que logo adquirem forma: animais, lâmpadas, correntes, cachoeiras, bolas de ferro, borrachas escolares... Abro os olhos e tudo parece normal. A dor simplesmente não está mais lá. Estou sentado na minha cama, suado e improvável. Parado, mexo apenas os globos oculares. Confiro os redores, testo meus cinco sentidos. Tudo parece seguro, mas agora enxergo com certa nitidez e parece que todos os meus conceitos aprendidos e inventados levam a uma simples pergunta: Me tornei lúcido ou assumi a outra face?
     Essa dúvida cruel; a linha que separa loucos e sãos, o paradigma dos psiquiatras, a pergunta que meu tio esquizofrênico não faz mais a si, porque teria como resposta a segunda opção. É impossível saber. De tudo isso, o que foi real? O que é O Real, senão um aglomerado de percepções brutas, moldadas por pré-conceitos, filtradas por cinco sentidos limitadíssimos, resumidas por palavras — códigos inventados não há tanto tempo assim — que só cabem em um dos cinco e limitados sentidos, graças à necessária estupidez de Galileu, que só nos faz enxergar por comparações. 
     Crer n'O Real como aquilo que se percebe é tão estúpido quanto crer na supremacia do ser humano. Esse mesmo ser humano que em centenas de milhares de anos ainda não conseguiu escapar dessa bolinha de gude que é a Terra (o recôndito dos estúpidos), que é um átomo de uma outra bolinha de gude, que..."

     E assim se encerra o manuscrito.
     As buscas já estão sendo realizadas. Ele não deve estar muito longe daqui.
     O que os senhores acham? O rapaz merece a cadeia? É louco? Deixou esse extenso manuscrito com a única finalidade de despistar as buscas? É culpado pelo crime que cometeu e não chegou a relatar?
     Não sei quanto aos senhores, mas enxergo um bocado de verdade nessas palavras...
     Façam o seu julgamento.

Um comentário: