sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Padaria (Trilogia abrupta, 1/3)

Um homem entra numa padaria sem despertar grandes interesses. De olhar fixo, caminha até o balcão, apóia a parte inferior da palma direita e batuca inconscientemente um ritmo indefinido. O funcionário da padaria lavando a louça o ignora. O homem, ainda de pé, quebra o silêncio:

— Você me arranjaria um copo d'água pra eu tomar meu remédio?

O atendente levanta os olhos e estende um copo de 300ml, cheio até a boca.
Sem dizer palavra, o homem tira do bolso um frasco. Rompe o lacre, abre a tampa e despeja todos os comprimidos na palma da mão direita. Sempre calmo, leva todos os comprimidos à boca e os engole com ajuda da água e certa dificuldade. O atendente observa tudo isso com espanto. A padaria está cheia.
O suicida finalmente senta-se num tamborete e, sempre calmo, morre ali mesmo, diante de todos.

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