segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

poema sincero



este será um poema sincero.

e se o escrevo hoje
(cinco dias após o fato que o motivou)
é porque não havia encontrado ainda a sinceridade
necessária.

este poema é para uma prostituta.
uma prostituta que não tem orgulho
mas também não vergonha 
da profissão.

se escrevo pensando nela é porque captei algo extra
naquela mulher,
e não estou falando sobre sexo ou corpo ou carne ou abate.
ela foi sinceramente gentil
e mesmo quando avisei que não transaria naquela noite
ela disse “tudo bem, posso ficar aqui com você?”

sim.

conversamos francamente e eu disse que a admirava porque
ela tinha de ser tudo:
escrava, cadela, objeto, amiga, psicóloga,
e até mãe
de alguns homens que as frequentavam.

e tinham ainda aqueles cruéis
que revidavam nessas profissionalmente-desalmadas
a sua frustração:
empregos massacrantes, falta de talento ou sorte, 
a derrota do time,
parcelas do IPVA, 
um casamento fracassado, quatro filhos…

por fim ela se cansou e foi faturar.
mas não sem antes tentar se desculpar comigo.
“é o seu trabalho”, eu disse
e fiquei com o whisky.


este poema foi um expurgo.
este poema não teve rimas e nem deveria mesmo ter.

este poema é o esperma que não jorrou
aquela noite.


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