sábado, 22 de fevereiro de 2020

O duplo




Percorri trinta anos até este momento
Que agora me escapa e jamais haverá.

(Não há em toda a História momento tão definitivo quanto esse que passa.)

Daqui trinta anos sei que passarei novamente por essa rua
E avistarei o eu que será antigo (já agora é antigo).
Trocaremos um discreto olhar, talvez um meneio de cabeça.
E se por acaso fizer sol nesse dia que se cria no futuro,
Usaremos nossas vozes de homem para trocar saudações de homens anacrônicos.

Aquele que terei sido descerá a rua com pressa e medo
Eu, mais grave e lento, subirei sem intenções obscuras.

Acredito que até lá terei percorrido o bom caminho que me fará ser
Esse homem que acabo de encontrar
Numa ladeira do sonho




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