domingo, 1 de março de 2020

Neblina de um sonho




Do reino dos sonhos
Trago para o dia certa neblina
Como se ao sair
Tivesse enganchado uma perna mal erguida

Agora a neblina envolve meu corpo
Como um cheiro denso que só eu sinto

É azulada a neblina
Um timbre pérola que tinge meus gestos diurnos
Com certo torpor

Ainda estou na área cinzenta entre os dois reinos
E não tomo partido
Deixo que disputem meu corpo,
Minha presença

Assisto
Talvez impassível

Me protege a neblina.
Amortece os sons todos do existir brutal 
Esse massivo ranger mecânico das ações humanas

Cultivo minha neblina
Movendo devagar para que não
  dissipe
Com minhas ventanias

Você tá bem? — ela pergunta, voz de capacete fechado.

Uma frequência sonora até então subterrânea cessa seu vibrar e me espanta.

Você parece cansado, com sono. Tá tudo bem? — Os olhos interrogativos pintados de vermelho me despertam partes.

— Sim. 
Acontece que fui picado pelo bicho da poesia outra vez.




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