sexta-feira, 6 de março de 2020
A rua aqui de casa
É uma rua gostosa.
Passam pessoas lentas com o cachorro,
Carros lentos para encontros de família
(Evito olhar muito dentro desses carros porque
quase sempre estão contaminados por domingo em família)
Há muitas e distintas árvores
E gosto de imaginar quais são anteriores ao asfalto,
quais vieram só de enfeite.
O cheiro é, sem dúvidas, um cheiro de bairro-subúrbio.
Há de fundo um som de mar, que são as crianças na escolinha.
(A distância transforma gente em mar.)
Pra você ver,
A rua é tão tranquila que foi eleita laboratório de auto-escola.
(Como são bravos os instrutores de auto-escola!)
Há também esse carro morto, meio suspeito e já sem cor,
plantado sob uma árvore antiga
Não sei se por insistência ou abandono.
Com boa vontade e certa adaptação,
posso dizer que nessa rua há uma potente, sólida mata virgem,
rebelde como qualquer mata e qualquer virgem.
(Então o ar que chega é sólido e virgem.)
Em dia de sol (aqui tem muito sol)
é flagrante o cheiro de sabão em pó
e amaciante.
Que paz isso me dá!
(O sabão em pó transforma gente em paz!)
Nessa rua o céu é imenso pela quase ausência de prédios.
Você lembra o que é
Olhar pra frente e enxergar céu?
É uma delícia essa rua.
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