quinta-feira, 20 de março de 2014

poema médio

tento seguir ileso, alheio à infinda infidelidade tropical.
fincado nessa vida (que é média), ando sem toque, meio medíocre,
entre parcelas – de dívida e arte – minguadas, sem risco.
vou pelo meio, vou reto, me esquivo pouco porque vou sem perigo.

(um copo que quebra,
o fio do interfone,
o aspirador de pó,
a ração dos gatos,
as aulas insuficientes,
a casa da sogra,
cupons de desconto,
pulgas,
fechar as janelas, cortar o açúcar,
forçar a poesia pra fugir da média, fazer média pra fugir da dívida,
praticar a mediação entre mim e os outros – tantos)

sigo assim, em repouso que sufoca,
tênue trilha que percorro, alheio ao lodo, sem saber onde vou dar –
mais parcelas, quem sabe, médias, miúdas; isentas de fogo ou coragem.

sigo sem saber ser essa pessoa que descrevo.

sem saber ser essa pessoa que descrevo,
sigo médio, catando migalhas, parcelando a culpa de querer ser o outro;
aquele (agora distante) num chão frio ou pensão.

nesse afluente raso,
sigo em ti e contigo, inofensiva vida.


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