quarta-feira, 16 de março de 2016

política


me sento apático para escrever.
o país ferve lá fora, bem longe.
me sinto absolutamente fraco.

nada novo.

caminho devagar, de meia, em silêncio
para não acordar o bicho aqui dentro.

os escândalos políticos não me interessam.
os escândalos políticos não me empolgam.
não há nada novo nisso.

vejo as multidões se agitarem.
vejo as multidões se agredirem.
cheiro o manjericão crescer na minha janela.
observo meu gato se lamber com afinco.

ouço o trânsito lá fora.

os bares seguem cheios.
agricultores de mãos calejadas seguem colhendo alimento.
empresários de mãos frias seguem fazendo fortunas frias.
suicídios seguem silenciosos.
assuntos sexuais seguem mal resolvidos:
os mesmos traumas,
os mesmos tabus.

a história segue sendo escrita:
as mesmas palavras,
as mesmas cores:
azul, vermelho
verde, amarelo.

não há nada novo lá fora.

os escândalos políticos não me impressionam.
sigo alheio, imune, inerte, em silêncio.

um silêncio pesado.
silêncio de morte.

choro de repente
e me assusto.

algo enfim
me surpreende
hoje.


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