sábado, 22 de abril de 2017

Todos meus amigos



não ando em bando
mas vez em quando
encontro um amigo
ou alguém que me diz
estar insone ou meio louco
sofrendo de ansiedade, gastrite, pânico
sem trampo, sem teto, sem rumo, morando de favor -
e que bom poder andar de mãos dadas no inferno.

as pessoas que encontro estão sempre olhando pros lados
com olhos opacos e pressa, preocupadas com o aborto ou
o filho não-planejado ou o preço da terapia e dos remédios.

todas as pessoas que encontro (e aqui me encontro também)
andam inseguras sobre o amor em tempos líquidos
mas precisam carregar seus bilhetes nas máquinas do metrô
com seus livros de poesia ou crítica literária na bolsa
(todos andam com mochilas e bolsas)
e ninguém está muito satisfeito com o rumo das coisas
e ninguém mais crê nas assembleias ou chapas estudantis.

as ideologias enfraqueceram e agora é cada um por si.

eu não ando em bando porque o bando me assusta.
mas vez em quando surge um rosto pelo vão da porta
e por um período curto e necessário
a vida parece valer a pena

mas no fundo eu sei - e assim cantou o poeta de Cuiabá:

Todos meus amigos
querem
morrer.



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