quinta-feira, 11 de setembro de 2014

três tiros na barriga


saio sem saco do serviço. os dois sacos. o que segura minhas bolas e o metafórico. saio esmagado e assim que piso a rua me assusto com uma moto que vem pra cima e com o brilho meio opaco da pistola que o garupa tira do bolso do casaco e me mete três tiros na barriga.

três tiros na barriga. o som meio abafado, mas a arma não é de brinquedo. não entendo. quem era? e por quê?
será a mando do velho do bar que ofendi ante-ontem na presença de duas belas damas por estar bêbado demais e não lembrar a senha do cartão na hora de pagar e o velho achar que eu tava tentando dar calote?

ou talvez aquele brutamontes que quase me matou porque eu ousei jogar uma sacola de lixo na sua lixeira.

ou a garota atormentada que acolhi em casa e tento curar mesmo sabendo que na verdade o que eu quero é ser destruído por ela.

então por isso aquele cara tossiu bem na hora que passou por mim naquele dia que eu fui até o orelhão telefonar pra minha amante cancelar o encontro porque minha mulher apareceu de repente em casa. e eu achando que ela ia pra Sergipe. sim. ele tossiu bem quando eu passei e uns metros depois tinha um homem parado fingindo mexer no celular. 

foram eles.

a mando de quem?

dos estudantes que tiveram suas roupas e produtos de limpeza roubados por mim no dia em que resolvi me matar tomando 12 comprimidos com maconha e conhaque?

não. os estudantes são frouxos demais.

ou o namorado daquela bióloga que gostava de me mostrar fotos de cobras acasalando antes de começar a foda. a bióloga que tinha um mamilo na costela. problema hormonal. nada sério. deve ter sido ele. com certeza não engoliu aquele gemido que ela soltou enquanto fingia pra ele no telefone que tava estudando na casa da amiga. meu dedo mede dez centímetros. é claro que ela gemeu. fiz de propósito. meti bem devagar, aveludado, e quando notei que havia aceitado meu dedo dentro, arqueei os nervos e falanges dentro dela, que gemeu alto e riu e me deu um tapa e depois disse "você me paga!"

não sinto nada. minha barriga doeu e parou. agora ouço um zumbido. os carros passam sem som. ninguém me viu cair, caralho? 

eu queria ter cometido suicídio, não morrer assassinado como alguém que deve.
que morte de merda.

não vou aguentar.
não quero.

aceito a dúvida. 
talvez tenham matado o homem errado.

aceito me deitar no chão dessa avenida movimentada às nove da noite enquanto um cachorro meio torto vem me lamber a boca.


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