domingo, 21 de setembro de 2014

poema-transe sobre obra de Agustín Barrios



I

o nylon me abraça
acalanta
entrelaça tango sol 
Sudamérica

passeio ruas estreitas
paralelepípedo
pedra morna
não compreende
(pedra)
reverbera a intenção

vibrato
desliza 
liso veludo

cheiro o mar
o sol de um ângulo novo

morno

vejo as rugas do sol
nas cordas do violão



II

a música me salva mais uma vez

me tira daqui

não existo
ainda

adormeço sentidos
todos

e sentado
sinto o éden
em mim



III

ouço a noite.
respiramos

meu estômago tenso só digere som

abraço a noite
que geme

não respiro.

meu estômago oleoso contrai
contrariado por um mi bemol meio-diminuto

que se resolve como truque de mágica a olhos curiosos (incrédulos, analíticos)

aplaudo a miragem noturna
(respira)

fecho os olhos

e vôo



IV

dança comigo
vem

seu vestido me roça
pego sua mão

deslizamos pelo salão amplo



(        (       (      (     (    ( eco )    )     )      )       )        )



lustre
(lustrado
ilustre
etc.)


a melancolia é inevitável.


(uma porta bate e me desperta do transe)
(perco você, musa invisível
inviável)



a música brota do piso
mármore encerado

amor
encenado
em compasso três por quatro


é valsa, querida

dança comigo

vem



V

o querosene da memória queima

a goteira da realidade respinga

o milagre da música permanece imbatível

agudo
sombrio
lúbrico

esse 
três-por-quatro me mexe

(todos nós)

em festas debutantes

casamento

o fim




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