quarta-feira, 10 de julho de 2013

Hotel

Fomos expulsos do hotel. Alegaram ser um hotel de respeito.
Pensei em dizer algumas verdades: que o ventilador não funciona, a TV também não, que tem baratas no quarto e que o chuveiro queimou no segundo banho, mas ela me arrastava pelo braço (essa mania que odeio mas não falo).
De mala na mão e ainda de camisa aberta, encontrei-nos sem teto. Então ela sugeriu que fôssemos à biblioteca municipal.
Ao chegar lá, o silêncio me sugou como faria o vácuo. O silêncio claro de luz formigante era uma verdade plena e me extorquiu as palavras da mente, como duas sondas que me tirassem a cera dos ouvidos.
Surdo, fui ler Borges.
Ela tinha algum compromisso, mas disse que voltaria.
Só recuperei a audição quando a chuva, ao se chocar com o teto da biblioteca, fez soar como inúmeros carrinhos de supermercado passeando ruidosamente por sobre suas rodinhas malditas.
"Quando ela chegar", pensei, "vou dizer pra que nunca mais me agarre o braço daquele jeito".
E tendo tomado essa firme decisão, lembrei ter esquecido todos os meus livros no quarto do hotel extinto.


                              Montes Claros/MG, 20 de janeiro de 2013

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