quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Espelho

                                                                 "Do outro lado da morte talvez saiba
                                                                                       se fui uma palavra ou fui alguém."
                                                                                                  J. L. B.

Gostaria de ser aquele homem
que se surpreendeu ao primeiro espelho —
fonte inesgotável de prediletas narrativas.
Ou então, já consciente do espaço que ocupo,
vislumbrar meu rosto árido numa poça ou rio
(talvez aqui acabasse como Narciso).
Mas essa utopia me escapa.
E me falta perceber que sou tão primitivo quanto o homem refletido no primeiro espelho e, portanto, passível de me enxergar num primeiro espelho do futuro.
Mas essa utopia provavelmente me escapará também.
Terei sido apenas (numa afetada memória afetiva do meu futuro) o próprio espelho
que projeta seu reflexo em grossas folhas de papel.

Essa utopia certamente me abraçará, enfim,
quando todos os braços estiverem enterrados.


                              Montes Claros/MG, 23 de janeiro de 2013

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