terça-feira, 27 de agosto de 2013

No princípio era o verbo

Na manhã de hoje, Deus (que é todas as coisas) me foi
e me fez soar por ruas da memória e cheiros,
mas me amputou a caneta.

Enviou-me espelhos sem olhos
e me cobriu de olhos sem punho.
Fui espectador e protagonista.

Inserido e ausente em mim, senti farpa na sola 
                                          percepção terrena.

Presenciei tratores que tanto me atraem,
não pude sequer querer interferir.
Compreendi
(como compreendi a carne suculenta diante de mim)
que o equilíbrio é balança e não deve ser tocado.

Na manhã de hoje, Deus me aboliu a rima
e me deu boa memória.
Vestiu-me de higiene mas borrou-me as mãos.
Compreendi;
não anunciei.

Na manhã de hoje, Deus me enviou um novo verbo.
Na manhã de hoje eu apenas sive.


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