sexta-feira, 2 de agosto de 2013

papel higiênico

eu estive no inferno
e por alguns anos me ocupei com tudo aquilo que deixei pra trás.
mesmo nesse período, algumas mulheres frequentavam minha casa;
umas como serpentes, outras como estrelas plásticas, algumas desgarradas,
houve até aquela mãe que ejaculava.
eu andava preocupado com alguns assuntos:
meu estômago, minha sanidade, meu ego.
compreensivelmente, nunca me lembrava do papel higiênico,
então essas mulheres passaram a carregar seus rolinhos na bolsa
e às vezes diziam “olha, eu trouxe esse rolo de papel higiênico pra deixar aqui”
e deixavam, 
para que pudessem se limpar adequadamente na próxima visita.

durante alguns meses, essas mulheres de bom coração (sentiam pena de mim)
me abasteceram com seus rolinhos gentis, mas também com tipos diferentes de
amor,
alimento,
sobrancelhas,
sorrisos,
corpos e fios de cabelo

mas aos poucos tudo acabou.
elas me deixaram, eu as deixei.
não existia mais amor a oferecer  
ou o refúgio de que tanto necessitávamos.
(era simbiótico.)

anos depois, tendo saído honrosamente do inferno pela arrombada porta da frente,
ainda carrego comigo essas garotas, 
exatamente como carregavam seus rolos de papel higiênico 

assim como elas faziam, eu as uso para limpar tudo aquilo que escorre de mim
em noites como essa.


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