sábado, 25 de maio de 2013

Naufrágio

Metíamos num colchão no chão. Sem amor. Metíamos como quem castiga ou pratica exercício e eu só pensava em encerrar. Ambos fingíamos. 
Gozei.
Encenei algum afeto — emprestei amor aos meus olhos — e virei para o lado, na busca de algum tecido que limpasse a cena; dei de cara com seu absorvente sujo e ainda úmido. Não consegui desviar. Encarei aquilo por alguns segundos e o que me incomodou, afinal, não foi o sangue, mas o aspecto daquela fraldinha ridícula, tão humana, tão comportada, tão indefesa e patética. Covarde, com suas abas que nunca prendem direito, embora grandes demais.

— Ai, não olha! — ela disse, movendo-se bruscamente como quem se assusta.
— Não olha o quê? — dissimulei. — Só tava procurando alguma coisa pra te limpar! 

"Só tava procurando alguma coisa pra te limpar", repeti no pensamento. "Parece que eu falo com uma criança". 
Nisso, olhei de volta em seus olhos mas não consegui fixar. Fui repentinamente tomado por aquela tristeza que você, leitor, conhece tão bem — naufrágio num peito seco.
Finalmente ela se levantou, catou sua roupa e foi ao banheiro, contíguo ao quarto.
Deitado, vazio e mirando vagamente o teto, fingi não ouvir seu grito que dizia "Quer vir tomar banho comigo?".

Então fechei os olhos e vi um mosaico nascer.


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