quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ode ao ódio


Eu tenho ódio.
Muito ódio em mim.

E sinto esse ódio no estômago,
Nos ombros, trapézio
Dentes
Omoplatas
Na glândula timo

Sinto ódio se uma pena cai
Ou um corpo morto me esbarra

Sinto ódio se me enrolo num fio
Ou percebo covardia no outro

Sinto o ódio na garganta e no rosto,
No estômago e extremidades
No topo da minha cabeça calva –
Sobretudo no estômago.

Transbordo ódio quando encho a cara
Me sinto ameaçado.

Eu sofro disso.

Eu sinto ódio todos os dias.
Um ódio descomunal.

No entanto,
Descrever o ódio não é legítimo,
Sequer terapêutico.

O momento do ódio é breve e devastador.
Todo o resto é abscesso.

Eu tenho muito ódio em mim.
E me sinto esmagado
Então revido
Rompo o silêncio
Tremo
Ranjo
Berro.

Fecho os olhos
Formigando
Tonto
Respiro
Quente

E me torno quieto outra vez
Como se muito pouco tivesse acontecido.

Eu sinto ódio.

Muito ódio
Dentro de mim.



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