sexta-feira, 1 de março de 2013

Você



Você
que já me viu seduzir a noite
e beber sangue de vagina desvirginada,
ou você que acreditou nisso…
você não é capaz de me imaginar sob o chuveiro
encolhido
abraçando meu próprio corpo
com as luzes apagadas.

Isso você não pondera.
Você me apunhala porque não percebe que
também sou carne e sangue.

Você que me viu com tantas mulheres
e acredita que meu coração é um pênis
não pensa que
se ando sumido
é porque talvez não tenha mais forças
(meu suicídio afetaria sua vida apenas duas semanas depois de consumado).

Você
que pensa
que sou um garanhão,
um homem sem piedade ou alma
se engana.

(A culpa foi minha?)

Você torna a me apunhalar, cuspir,
você pinta minha caricatura com guache
e expõe ao público –
não me manda o convite da exposição.
Sua obra-prima me passa desapercebida.

Você não vê meu reflexo no espelho clamar calado por socorro.
Na verdade você já não costuma pensar em mim.

Por isso estou sozinho.
Por isso eu fugi.


O sangue virgem secou, amigo.
Agora só recebo carne usada
e mal sei usá-la.
Esqueci o sentido do corte,
cansei de armazená-la.


Vai, purifica sua lembrança sobre mim.
Tira o punhal da minha garganta.
Esquece aquele sangue virgem.
Eu não sou assim.
Ouve meu choro abafado.
Me dá um abraço.
Me perdoa.


2 comentários:

  1. Oi. Conheci seu blog por meio do Fabio do A Magia da Poesia e estou adorando seus escritos! Parabéns!

    Este poema, em especial, me deixou sem palavras!

    Acompanharei suas letras.

    Abs,

    ResponderExcluir
  2. Te falar, esse é inegavelmente o mais Hermes Lacerda de todos. Ele tem mais o subjetivismo do Hermes que até o Uma Vila.

    ResponderExcluir