sábado, 21 de agosto de 2010

a caminho do trabalho


todos os dias
eu tomo o ônibus das
quinze-pra-seis.
todos os dias
eu olho pra cara cansada
e desiludida
das pessoas
no ônibus das quinze-pra-seis.
todos os dias
eu leio contos
e poemas
a caminho do trabalho
e,
enquanto mergulho no céu
cor de papaya,
estico os ouvidos até as conversas engraçadas
dos passageiros.
mas
hoje
eu tomei o ônibus das
seis e vinte.
hoje
o céu tem cor de
fumaça de óleo diesel
e
eu não encarei os passageiros
cansados.
não estiquei os ouvidos. hoje
eu sinto
aquela velha tristeza
que há tempos não me visitava.
hoje,
meu amigo,
a noite vai ser longa...
...
mas
amanhã,
quem sabe,
eu tome o ônibus das quinze-pra-seis
e leia Hemingway
enquanto
estico os ouvidos, buscando
as lamúrias das Marias
ou
a fúria das Jandiras
ou
seu Zé e suas mentiras,
ao passo que o céu
cor de papaya
nos brinda com
sua magnitude
lá fora.

3 comentários:

  1. todos os dias
    eu tomo o ônibus das quize-pras-seis
    mas hoje peguei o das seis-e-meia.

    me atrasei.

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  2. Também ouvia muitas conversas engraçadas no ônibus...
    Outro dia peguei um motorista cantor! Ele tava feliz da vida, brincava com cada passageiro que entrava... deu carona para uma senhorinha perdida até o ponto certo onde passaria o onibus que ela queria. Mas tinha uma mulher, dessas de cabelão comprido e saião até o joelho, que estava profundamente irritada com a cantoria do motorista. Tão irritada que gritava com ele mandando ele calar a boca. Mas ele não parou. Então ela desceu no meio do caminho após vários "Paaaaaaaaaaaara esse ônibus que eu vou descer, seu maluco". Pela janela deu pra ver que ela continuou reclamando bastante com o pessoal do ponto...

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  3. Muito bom seu texto e seu blog. Parabééns

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