Sim, é verdade que a matei.
E falo do modo mais franco.
É como se não tivesse
acontecido,
foi ontem
mas parece já uma lembrança
apagada…
Comecei pelo pescoço.
Ela era forte e foi difícil.
Tive que soltar seu pescoço.
Esmurrei seu colo,
esmurrei a garganta
não lembro se ela gritava
ou o que dizia
enquanto eu espremia sua
traquéia
dizendo “fala a verdade!”
por fim
ela desmaiou.
Peguei uma pedra e amassei
seu crânio
e ela morreu sem dizer a
verdade
que eu tanto cavei.
Ela está morta agora
e eu já não tenho tanta
certeza de minhas suspeitas.
O que sei é que a matei, que
ela morreu, que está morta.
(Seu velório terá o caixão
fechado.)
Eu a matei
e as crianças brincando na
rua sequer imaginam,
sequer reparam no assassino
que passa
e as nuvens não deporão
contra mim
ou a mulher que corta as
unhas na calçada
muito à vontade – é domingo.
Por qual motivo a matei?
Parece que não aconteceu
não sinto culpa.
Sou culpado.
Ela morta, o que mais dói –
só o que dói –
é não ter certeza se fui
justo,
digo, não sei se aquilo tudo realmente
acontecia
ou era só insegurança,
impressão, paranóia
culpa.
Penso que a matei para
enterrar a dúvida:
“está morta, pronto.”
O que farei agora?
O vazio acabará, eu sei.
Hora ou outra
acabarei me punindo
e a lei chegará
e nada ofuscará a possível
certeza que terei
ao perceber que sua morte
brutal
de nada adiantou.
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