“a cada vez que eu te vejo fico mais preocupada”, me dizem.
não se preocupem, eu digo.
é verdade que ando sofrendo
de insônia, crises de paranóia,
as lutas têm me deixado
rastros e ando mal alimentado, sem dinheiro –
gastei excessos com álcool e sexo –
minhas mãos andam trêmulas, o
pau já foi bem melhor, tentei suicídio,
minha porta está arrombada
(eu mesmo o fiz), fundas olheiras, magro demais,
estou carente e frágil – sei
disso –, querem meu pescoço, clonaram meu cartão,
enxergo o que não está ali,
meu gás acabou, minhas roupas estão apodrecendo
[na umidade,
minha casa está imunda, ando
estressado, ansioso, mal humorado, sem créditos na praça, odiado…
meu cerco está realmente se fechando,
e sei que estou me tornando
um clichê.
é inevitável.
eu escolhi ser sozinho.
eu escolhi não estar sóbrio.
eu escolhi pensar até a
exaustão mental e física.
eu decidi abdicar da
tradicional felicidade – estúpida – para ter argumentos.
eu decidi colocar meu corpo à
prova para conhecer meus limites – nunca os encontrei.
estou onde decidi estar,
agora pago o preço.
é alto,
mas enquanto o poema e a música seguirem dispostos
e elas seguirem entrando e saindo por aquela porta,
estará tudo bem
comigo.
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