abandonei um poema para ir matar a fome
e comi como se matasse a fome da época em que escrevia justamente por não ter o que comer
sim, o mito do escritor faminto
eu era um clichê impregnado de verdade
mas hoje eu sento com meu jazz no ouvido e tenho a opção de pausar um poema para comer salame
é verdade comi como um animal enquanto andava em círculos pela cozinha emprestada
E TOMEI COCA-COLA lembrando dos dias em que bebia água turva da torneira e
comia farinha de milho diluída nessa mesma água sonhando com pratos fumegantes
esperando visitas que pudessem me salvar da minha própria emboscada
fazendo a manutenção de uma vida miserável
premeditadamente miserável
miseravelmente solitária
era uma vida
era uma vida
sem salame
com alma
agora estou gordo
estou morno
sentado inofensivamente ouvindo jazz em meus fones de ouvido lembrando de um tempo que já...
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