Degusto em silêncio-penumbra as letras do velho que serenou em vida.
Aprendo que sou o outro e hoje é ontem.
Às oito da noite é penoso querer não ser o outro,
Há gente demais no mundo, destinos se chocam.
Evoco os grandes; não me desce o medíocre.
Brado de modo pouco sereno (sou chuva).
Permito ser irritado pela formiga que me acaricia o braço, talvez invasiva.
Como posso exigir exclusivo espaço no mundo?
Há gente demais, digo a verdade.
Evito neologismos —
Percebo que a boa escrita vem de um homem que está cansado,
não aceita trapaças ou glacê.
Almejo tecer a teia do Tempo, sentir a existência (isenta de toque) de outros que sofrem
em quartos, em silêncio, em penumbra...
(Percebo que sofrer é egoísmo.)
Consulto novamente o cego oráculo, por acaso argentino,
universal por mérito,
sereno por consequência de vida confinada em
frustrados amores,
escuras bibliotecas, frias e mofadas bibliotecas,
surdas universidades,
abafados cafés,
infinita e flexível memória têxtil...
Jorge Luis Borges,
hoje escrevo sobre mim
buscando te ressuscitar
afinal,
hoje sou você.
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