Era possível ver três silhuetas ainda na parte alta da rua cercada por densa vegetação.
Desciam a rua a passos despreocupados, de costas para a lua cheia que brilhava, muito alta e límpida. Eram dois homens e uma mulher. Todos não passavam dos 25 anos. Pareciam alegres — talvez embriagados, mas compostos. A garota andava entre eles e era certamente a mais efusiva; ora se virava para um, falando energicamente e segurando-lhe o braço, ora para o outro. A cada vez que se virava parecia ainda mais eufórica e arregalava os olhos e ria e gesticulava com a mão eventualmente livre.
Chegavam, enfim, à parte baixa e plana da rua. A temperatura ambiente era amena e não ventava. Dir-se-ia que o clima estava seco, mas a excessiva claridade azul da lua sugeria o contrário. Conversavam sobre um projeto que acabara de nascer na mesa de um café, espontaneamente, como extensão de um primeiro projeto — motivo do encontro.
Dos garotos, um era músico. Alto, magro e meio curvado; o outro não passava dos 1,75m, tinha ombros largos e um sorriso pré-estabelecido, limpo e muito honesto. Era ator.
A garota e o rapaz circunspecto se conheciam há alguns meses. Até a presente noite não conheciam o ator. Receberam indicações a respeito do seu trabalho e marcaram essa reunião para discutir as propostas de uma filmagem. Tudo correu bem. Mas tratavam agora do outro projeto, nascido do clima favorável e garrafas de cerveja extremamente geladas.
Todos falavam ao mesmo tempo. E alto demais. Já não era uma conversa, mas uma vulgar poluição sonora, como galinhas confinadas que cacarejassem ao redor do milho recém-lançado.
O novo projeto tratava de uma performance improvisada, reunindo a expressão corporal do ator e a música do outro. A garota dava ideias e parecia querer coordenar o espetáculo.
A larga rua chegava ao fim, desembocando em avenidas, pontes e marginais. Cada um seguiria numa direção.
— Poxa, a gente nem pegou os contatos um do outro! — disse o ator.
— É verdade! Eu acho que tenho caneta e papel aqui na bolsa!
— Eu não tenho telefone, mas pega meu e-mail! — disse o músico.
A garota não achou a caneta.
— Ah, mas a gente vai se falando! — disse o ator.
— É, eu pego seu número com a Luma! — disse a garota.
— Ha, ha, nem adiantaria você pegar meu e-mail. Não vou olhar tão cedo!
E assim chegaram ao ponto decisivo.
Despediram-se e cada um tomou seu rumo.
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