O céu físico, tão próximo e colossal, não é menos frágil do que eu.
Alheio ao acobreado tom da tarde e à inevitável melancolia, fragmenta-se, move-se,
dá pano a inúteis poesias.
Calo a música, atento aos carros lá fora.
Aguardo a campainha que enfim me despertará.
(Aguardo aflito.)
Encaro janelas, muros, construções em progresso, emancipadas e solitárias antenas que desconhecia...
Carros relincham no asfalto pluvial,
a tarde despenca. (Meu quarto incandescente torna-se a própria tarde de hoje.)
Os gatos vem até mim; não compreendem a melancolia – querem água.
(Esboço um primeiro sorriso, cansado, não acendo luzes.)
A noite me invade e mostra através de turvos espelhos:
minha dor é média. É tom de cobre, é aguardar campainha, é estar fraco e calvo, é o fluxo lento intumescido de lâmpada
e chuva.
Elogio a sombra, acompanhado de escritores Velhos.
Céticos. Cansados.
Soslaio suas palavras, sem toque, e planto letras entre cifras de música...
Um zumbido elétrico me rasga inteiro.
É a campainha.
É ela.
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