que
sempre chega
e
continuará chegando,
para
a felicidade ou não
do
bêbado.
é
no dia que ele se redime,
se
envergonha, se cala,
acerta
ou não
suas
dívidas recentes,
telefona,
lava o rosto,
sente
fome, raiva…
sobretudo
vergonha.
é
durante o dia que o bêbado
(de
ressaca)
se
pergunta,
que
diabos aconteceu ontem?
tenta
juntar algumas peças
já
sabendo que será impossível.
lembra
da garota sem cabelo
e
de seu namorado sem cabelo
uma
jukebox
uma
boca
cabelos
álcool
dança
(a
dança é memória afetada)
e
passos que levam embora
para
o dia.
se
soubesse o dia
o
bêbado se manteria sóbrio
mas
a ideia do dia é algo distante
porque
o bêbado não deseja o dia
(jamais
deseja o dia.)
o
bêbado deseja que a noite se prolongue
(mas
não também.)
o
bêbado deseja encontrar cicuta
em
seu copo.
e
assim como não sabe o dia
o
bêbado não compreende esses rostos
à
sua frente.
todos
os
bêbados
num
pacto
quieto
improvável
se…
mas não.
logo em seguida o bêbado acorda em casa e se pergunta
eles só querem se esconder.
talvez
no copo.
minúsculo
frágil
estúpido.
o
bêbado troca de copo
mas
não de veneno
aliás,
acrescenta um mais forte.
sugestão
da garota
que
se senta ao seu lado,
o
corpo dizendo “me fode”,
totalmente
entregue ao bêbado
(ela
também vai alta)
mas
o bêbado não se importa.
se
cansou.
está
farto do jogo.
sabe
que é melhor assim
e
sente até um orgulho em ignorá-la.
bem,
não totalmente, porque eles conversam
riem
beijam
dançam
(a
dança é memória afetada)
pedem
mais uma,
a
garota com seu corpo dizendo
“me
fode a noite inteira”
e
nada foge – ainda – aos olhos do bêbado
e
ele permanece seco
apoiado
no balcão
de
frente para a garrafa
e
os copos
e
a possibilidade de se embriagar até o fim.
a
garota
segue
tentando.
o
bêbado sorri,
triste.
a
garota pergunta “o que foi?”
e
o bêbado diz
(ainda
rindo)
que
se lembrou
de
um negócio absurdo.
a
garota duvida,
errônea,
em
vão...
a
conta vai alta.
ele
não tem dinheiro
e
a garota sabe disso
e
pergunta
“outra?”
os
vermes alcoólatras se agitam dentro do bêbado,
que
não esconde o sorriso quando diz “por mim…”
e
a garota, com aval
pede
mais uma ao garçom
que
respeita o bêbado
e
se lembra
(mas
não fala)
da
vez em que o bêbado esteve lá
e
se envolveu numa briga homérica
onde
voaram cadeiras, mesas,
garrafas
vazias
e
o
garçom bem que tentou cobrar os reparos
mas
o bêbado
linchado
questionou
e disse
“só
vou pagar pelo que eu bebi.”
e
pediu a calculadora
e
somou
e
pagou.
mas
agora existe essa garota.
matéria-prima
obra-prima
que
o bêbado – bêbado –
meio
que despreza
e
em
algum momento surgem os amigos dela
de
surpresa
então
dividem a mesa, espantados com a sede do bêbado
que
tem sede de morte
e
escancara isso pra fazer graça.
que diabos aconteceu ontem?
que diabos aconteceu ontem?
tenta juntar algumas peças,
já sabendo que será impossível...
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