I
o nylon me abraça
acalanta
entrelaça tango sol
Sudamérica
passeio ruas estreitas
paralelepípedo
pedra morna
não compreende
(pedra)
reverbera a intenção
vibrato
desliza
liso veludo
cheiro o mar
o sol de um ângulo novo
morno
vejo as rugas do sol
nas cordas do violão
II
a música me salva mais uma vez
me tira daqui
não existo
ainda
adormeço sentidos
todos
e sentado
sinto o éden
em mim
III
ouço a noite.
respiramos
meu estômago tenso só digere som
abraço a noite
que geme
não respiro.
meu estômago oleoso contrai
contrariado por um mi bemol meio-diminuto
que se resolve como truque de mágica a olhos curiosos (incrédulos, analíticos)
aplaudo a miragem noturna
(respira)
fecho os olhos
e vôo
IV
dança comigo
vem
seu vestido me roça
pego sua mão
deslizamos pelo salão amplo
( ( ( ( ( ( eco ) ) ) ) ) )
lustre
(lustrado
ilustre
etc.)
a melancolia é inevitável.
(uma porta bate e me desperta do transe)
(perco você, musa invisível
inviável)
a música brota do piso
mármore encerado
amor
encenado
em compasso três por quatro
é valsa, querida
dança comigo
vem
V
o querosene da memória queima
a goteira da realidade respinga
o milagre da música permanece imbatível
agudo
sombrio
lúbrico
esse
três-por-quatro me mexe
(todos nós)
em festas debutantes
casamento
o fim
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