O desespero e a incompreensão me deixaram.
Assim como todos,
me deixaram.
(Ou fui eu quem os deixou?)
O que restou?
Uma tristeza calma.
É triste, sim.
Dói, sim.
Mas dói de modo sereno,
quieto.
Pela tranquilidade da tristeza, sei: será duradoura.
E quase sinto seu afago.
(Quase…)
Tristeza irremediável,
insubstituível,
tristeza límpida.
Mais digna que o ódio.
Mais pura que o amor.
Mais simples que a felicidade simples.
Dor que me acompanha por todo o caminho até em casa.
Se afasta do trânsito junto comigo, penetra na noite fria e
clara,
dobra a esquina ao meu lado e sobe a ladeira admirando as
casas.
Num relance, penso que a presença da dor é a de um amigo
e quando vou dizer “que casa linda, não?”, percebo que a dor
não tem ouvidos. E me calo.
Quase esboço um sorriso.
(Quase…)
E entro em casa pensando,
acho que vou tomar um longo
banho
quente
hoje.
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