perder alguém —
é consenso: dói.
e o engraçado sobre isso é que
existe ainda outra etapa
que parece até mais cruel
e desgastante e absurda
que a morte em si
(afinal, absurda a morte não é)
bom seria confirmar a máxima
“e no final, a morte”
mas esta cai por terra quando surge
a burocracia.
quem vai pagar o velório?
quem vai avisar aos outros?
quem vai dar baixa em contas de bancos e cadastros?
quem vai colocar o sapato no pé do defunto, que inchou?
é como uma piada de mau gosto que alguns parentes insistem
em contar
seja por nervosismo ou culpa
ou sentimento de obrigação em apaziguar o peso da morte.
e a papelada do inventário?
quem vai contar à criança?
quem vai lembrar das flores?
que fim dar aos objetos pessoais sem valor financeiro?
crema ou enterra?
confesso que comecei isso sem saber onde chegaria
e acabo de confirmar:
nossos costumes e rituais e procedimentos medíocres são
indubitavelmente
muito mais cruéis do que a morte.
ah, muito bom o poema! Mostra o quanto é horrível essa situação: A morte como um negócio, seres humanos como urubus e uma burocracia rentável.
ResponderExcluirÉ sempre angustiante ver a pessoa que tem que tratar desses assuntos chorando por dentro, afogando a dor. Enfim. Beijo!